O estudo sobre a singularidade do homem (temperamento, individualidade ou personalidade) não é nada novo. Hipócrates, médico que viveu entre 470 e 377 a.C., seguramente é considerado por muitos o pai do estudo sobre os temperamentos. Foi ele quem categorizou os temperamentos em quatro grupos principais: melancólico, fleumático, sangüíneo e colérico. Esta classificação foi determinada pelo exame das cores predominantes nos fluídos corporais de seus pacientes. Hipócrates não desenvolveu toda a teoria, uma vez que o sistema grego de pensamento já admitia quatro tipos de personalidades representados pela primavera, verão, outono e inverno. Cada um destes tipos foi dividido em três combinações, originando as 12 naturezas que a astrologia passou a utilizar quando do seu surgimento. Embora a abordagem de Hipócrates esteja longe de ser científica ou bíblica, ele descobriu aquilo que toda mãe já sabia: Cada criança nasce única, com uma visão própria do mundo que a cerca e com um modo individual de se relacionar com os outros.
O Teste de Personalidade é um teste sobre o temperamento que, para suas avaliações, utiliza os padrões bíblicos para o homem. Portanto, as quatro classificações tradicionais dos temperamentos foram deixadas de lado e substituídas pelas três funções da alma: a razão, a vontade e a emoção. Jesus, ao comentar sobre sua capacidade de prover todas as necessidades do homem, declarou que Ele era o caminho (para o Realizador ou Agente/Vontade), a verdade (para o Pensador ou Racional/Razão) e a vida (para o Sentimental ou Relacionai/Emoções). Jesus satisfaz as necessidades de cada personalidade ou da combinação delas.
CONFUNDINDO DONS COM PERSONALIDADEA personalidade é freqüentemente confundida com os dons espirituais, porque a maioria dos testes elaborados para ajudar os cristãos a conhecerem seus dons, simplesmente determina o temperamento. Aquela pessoa de vontade forte, ou o indivíduo "realizador", com freqüência será apontado pelo teste como um profeta; a pessoa emocional, será apontada como evangelista, e assim por diante. Observe que Deus concede dons segundo a Sua vontade, e nenhum dom é obstruído ou acentuado por uma inclinação natural da personalidade. No reino de Deus, o "realizador" pode ter o dom de servir, e o "pensador", o de profetizar. Uma das maiores dificuldades de um teste sobre dons espirituais é o fato de que, ao ser aplicado em incrédulos, os resultados demonstram que eles possuem dons espirituais!
ENTENDENDO A SUA PERSONALIDADE
Entender a sua personalidade é importante porque em Lucas 9.23 o cristão é ordenado a levar a sua cruz e negar-se a si mesmo. A personalidade que será negada deve ser definida corretamente ou corremos o risco de nos encontrar tentando negar aquilo que Deus fez particularmente a nós, causando assim, um grande conflito interno.
AS TRÊS PERSONALIDADES DAS ESCRITURAS
Há nas Escrituras três referências diferentes para a personalidade; fazer uma distinção entre as três facilita o entendimento sobre qual delas será crucificada com Cristo, qual será negada e, finalmente, qual será amada.
Como mencionado anteriormente, a personalidade é aquela parte de urna pessoa formada no seio de sua mãe (Salmos 139). Deus não é uma fábrica de biscoitos, portanto, não faz todos os seres humanos iguais. Ele nos faz indivíduos únicos e, embora todos tenhamos o mesmo propósito na vida, que é o de adorá-Lo, como criaturas singulares, expressaremos aquela adoração de maneiras diferentes. A personalidade é definida como aquilo que é particular a cada pessoa, incluindo os talentos, as habilidades, a inteligência, a individualidade e o temperamento dados por Deus.
De certa maneira, a personalidade pode ser considerada como uma ferramenta que, por si só, não tem nenhuma utilidade, mas que mostra o seu valor em como e por quem é usada. Por exemplo, um martelo é um martelo e é percebido somente por quem o utiliza e por aquilo que se faz com ele; poderia ser usado por um louco para matar uma pessoa ou por alguém generoso para construir uma casa para uma viúva.
A personalidade é usada pelo homem natural para produzir egocentrismo; pelo pecado, por satanás e pelo mundo, para construir um comportamento carnal; ou pela verdadeira vida de Cristo, para construir o Reino de Deus. A personalidade não pode ser mudada, mas a sua fonte e seus propósitos podem ser trocados.
A Personalidade Tipo l, é controlada pelo homem natural; esta personalidade é típica do incrédulo ou do homem não-regenerado, produzindo uma condição carnal. Um homem pode possuir a habilidade dada por Deus de iniciar negócios motivando e persuadindo as pessoas a segui-lo. No entanto, sob o controle da velha natureza, o talento e a habilidade, criados para expressar Deus, acabam em uma condição carnal, e este homem pode abrir uma rede de bancas de publicações pornográficas. Ele distorceu o dom de Deus para a sua personalidade e utilizou-o para o pecado, para o prazer e para os seus próprios propósitos.
Muitas vezes nos deparamos com uma pessoa cuja personalidade foi distorcida por acontecimentos do passado e pela maneira como ela lidou com aquelas experiências dolorosas. Por exemplo, a personalidade de alguém pode ser caracterizada como amável e despojada em favor das pessoas, mas sob o controle da ferida anterior do homem natural, pode ter aprendido a se comportar de uma maneira dura e insensível.
A direção de Deus para a Personalidade Tipo l é que ela seja crucificada (Gaiatas 2.20). A fonte que dirige a personalidade é que precisa morrer, e não a personalidade em si. A Personalidade Tipo l tem seu curso estabelecido para uma determinada direção, e segue qualquer sinal que a conduza assim. Seu destino é o inferno.
A segunda das três personalidades,
a Personalidade Tipo 2, é aquela sob o controle da herança e das manchas do pecado, subjugando o homem natural, mas destituída da ação da Trindade. Esta pessoa é um cristão nascido de novo, porém, em uma condição carnal. Ele pode usar todas as habilidades que Deus lhe deu para começar um ministério ou um empreendimento com vistas a sua própria glória, segurança financeira e utilização egoísta. Para esta pessoa está assegurado o céu, mas ela continuará a experimentar o inferno na terra, a ligação contínua com o pecado, com satanás, com o mundo e com o passado! A direção para esta personalidade é a de negá-la diariamente (Lucas 9.23) pelo poder da cruz.
A Personalidade Tipo 3 é muito importante porque é aquela sob o controle da vida de Cristo. O homem neste estado entra na abundância do seu ser. Todos os seus talentos, habilidades, inteligência, individualidade e temperamento, dados por Deus, funcionam como devem e ele manifesta uma condição denominada: caminhando no Espírito. Tudo que esse homem faz, Cristo faz por meio dele, e ele é uma bênção para todos. Quando Cristo controla a personalidade, o , limite entre trabalho espiritual e trabalho secular desaparece, porque todo o trabalho é espiritual e pertence a Cristo. Para ele não importa fazer o que alguns consideram tarefas servis, porque Cristo é a fonte. A perspectiva de Deus sobre um trabalho de valor é bastante diferente da perspectiva do homem. Quantos de nós pensam em atender às pequenas necessidades físicas do semelhante como algo altamente recomendável? "E quem der de beber, ainda que seja um copo de água fria, a um destes pequeninos, por ser este meu discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão." (Mt 10.42).
A ordem com respeito à Personalidade Tipo 3 é que temos de amá-la (Mateus 19.19). "...e amarás o teu próximo como a ti mesmo."
Quando não se consegue distinguir as diferenças entre as três personalidades, tem-se como resultado uma dificuldade em se submeter o eu à crucificação, de negar-se a si mesmo e de ao mesmo tempo amar a si próprio. O exposto acima pode servir para esclarecer as diferenças.
O amor, na personalidade que se submete ao controle do Espírito, ou seja, a Personalidade Tipo 3, será examinado mais adiante. Até que alguém ame a si mesmo, seu coração não pode se abrir muito aos outros. Vivemos em uma cultura que exalta as habilidades, a aparência e a inteligência. Qualquer um daqueles afortunados que possua estas características em abundância, recebe a clara mensagem de que é superior. Paulo tenta tratar o erro deste pensamento em l Co 12.14. Deus escolhe e faz cada indivíduo diferente de acordo com os Seus propósitos. A partir da perspectiva de Deus, realmente não há razão para que qualquer uma de suas criaturas se exalte sobre as demais. Um homem com vinte milhões de dólares deve se sentir superior ao homem pobre quando o Senhor é quem possui tudo? Pode um homem com um Q.I. de 160 reinar sobre aquele com Q.I. de 70, quando o Q.I. imensurável de Deus é infinitamente acima de alguns trilhões? A Miss Universo é mais magnífica para o Senhor do que uma senhora mansa de 85 anos de idade que tem caminhado com Ele, fielmente, durante a maior parte dos seus anos? Como somos tolos e vãos! Mas a perspectiva bíblica não anulará o que o mundo continua a dizer e clamar. (Livro: Teste de Personalidade - DR. Mike Wells - Abba)